quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Uma dor que não é minha

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Hoje eu não vou falar de você, nem da nossa separação e muito menos da minha dor. Eu vou falar de algo maior, vou falar do sofrimento que ultrapassa os limites, da dor que supera a carne, do nunca que será sempre nunca.
Ele nem era muito meu amigo, resolvi ir mesmo por consideração. Escolhi um modelo básico de preto, nada de acessórios e uma leve maquiagem para camuflar as olheiras e o rosto ainda com os aspecto de sono. O clima era pesado e o sentimento de perda irreparável visível. Tão novo, tão bonito, tinha um futuro promissor... as pessoas lamentavam. Não tive coragem de chegar mais perto, toda aquela atmosfera estava me deixando sensibilizada, foi aí que eu me deparei com aquele mulher ao lado dele, firme, serena, quase que petrificada. Os olhos não derramavam uma lágrima, mas os lábios tremiam, assim como suas mãos enquanto rezava um terço. Perguntei ao que estava ao meu lado, "é a mãe dele?" e obtive uma resposta positiva. Como assim? Me perguntei. Uma mãe que não chora, que não se descabela, será que ela era realmente a mãe dele? Fiquei ali por mais longos minutos observando aquela ação comedida, ela não olhava pra ele, olhava para frente, para o nada.
As pessoas começaram a esvaziar a sala, tinha chegado a pior hora, o enterro,então, no primeiro monte de terra eu vi aquela rocha desmoronar. O grito daquela mãe foi o barulho mais assustador que eu já ouvi na vida, era mais que um grito de dor, de desespero, era de amor. O maior amor do mundo. Como permitir que a vida leve o que saiu de você, o que por direito te pertence? Como entender que anos e anos de dedicação e cuidados, risos e choros serão apenas lembranças, muitas vezes entristecidas por aquela tarde chuvosa?
Ela não aguentou, saiu de cena carregada, o corpo porque a alma ficou ali do lado do filho tão amado.
Fui pra casa analisando tudo, era como um filme rodando em minha cabeça com direito à camera lenta. Talvez aquela quase indiferença, fosse na verdade a esperança. O desequilíbrio dos lábios e das mãos fossem uma prece, os olhos ora cerrados ora vidrados na porta a ilusão de que nada aquilo era verdade e que logo ele entraria por aquela mesma porta reclamando do juiz que anulou o gol que ele havia dedicado a ela.
Esse foi sem dúvida o episódio mais triste e revelador assistido por mim. A vida dessa senhora nunca mais será a mesma, e depois disso a minha concepção de amor também não.

2 comentários:

Lua...eternamente...Lua disse...

Que selinho?? hã? fiquei curiosa para saber o q era.
bjos

Lua...eternamente...Lua disse...

Intenso!!!

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