domingo, 12 de setembro de 2010

A Despedida

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Você vai aprender a viver sem mim, foi isso a última coisa que ele me disse antes de atravessar aquela porta.
Ele colocou a mochila nas costas e saiu antes que eu pudesse dizer uma ou duas palavras. Bateu a porta e sumiu logo na primeira esquina da rua, acho que não quis prolongar o meu sofrimento em ter que vê-lo partir. Nos meus olhos milhares de lágrimas contidas ameaçavam derramar a qualquer momento.
Ele não sabia o que estava dizendo, não imaginava que eu jamais aprenderia a viver novamente sozinha ou com qualquer outro alguém. Era tudo tão completo, tão perfeito, tão feliz que sem ele nada restava. Nada.
Mas finais são sempre assim, tristes e frios. E nos meus momentos de fossas, eu lembrava de certos filmes que havia visto, livros que havia lido e músicas que havia ouvido. Todos falavam sobre abismos, sobre casais desfeitos, amores não correspondidos, dores profundas, estradas sem fim. Mas dentro da ficção, tudo sempre tem cura: um outro amor, uma reconciliação, um novo brilho nos olhos. Na realidade, tudo é diferente. Ele não vai mais voltar e eu jamais encontrarei alguém que possa substituí-lo e talvez eu me esqueça, com o passar do tempo, coisas simples como andar de bicicleta ou de praticar o meu latim, mas jamais esquecerei a sensação de estar ao lado dele.
O problema é que ele sabe demais. Sabe sorrir, chegar, escrever, contar estórias, ouvir as melhores músicas e dar o melhor abraço do mundo. Além disso ele é lindo, aos meus olhos, lindo além da conta. Uma mistura de elementos doces, ásperos, cítricos e delicadamente aromatizados. Ele sabe ganhar um sim de mim em todos os momentos, basta me olhar com aqueles olhos inexplicavelmente sedutores. Maldito olhar, maldito sorriso.
Eu cai em todas as armadilhas, sem exceções. Acontece que pra ele eu era apenas mais um número, uma vítima, um degrau a ser subido.
E agora, com a cabeça encostada na mesa, eu penso que ainda morre-se por amor, por mais que a postura conteporânea tente abolir certos ritos poéticos. Não é uma morte imediata, não é o mesmo veneno tomado por casais medievais apaixonados, é mais lento. Morre-se devagarzinho, dia após dia. A sorte é que como demora, ainda há tempo de reagir, basta secar as lágrimas, abrir as janelas e esboçar um sorriso para o estranho do outro lado da rua.

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